terça-feira, 22 de janeiro de 2008

"Palhaços" está de volta!

Peça escrita por Timochenco Wehbi mostra encontro entre um palhaço e seu fã e discute o papel da arte e do artista na sociedade contemporânea

Por: Patrícia Rocco

Fotos: Divulgação

O texto é da década de 70. Mas a realidade nos mostra que não há nada mais atual do que Timochenco Wehbi, dramaturgo paulista, quis evidenciar com "Palhaços" há mais de trinta anos.

O circo é decadente. Assim como as esperanças e a visão de mundo ultra-realista do palhaço Careta (Dagoberto Feliz).

Benvindo (Danilo Grangheia), o fã, é vendedor de uma loja de calçados, aspirante a gerente e, como fã incondicional do artista - esperançoso por um inocente bate-papo - vai cumprimentá-lo no camarim após o espetáculo. Não sabia, porém, que a proximidade da realização de um sonho poria também à prova as suas mais puras aspirações.

E é exatamente o que acontece quando, o que prometia ser um singelo e agradável diálogo enter fã e ídolo, torna-se um processo de quebra de paradigmas num jogo cênico tragicômico, uma sucessão de malabarismos físicos e mentais que apóiam o encontro das duas personagens e que acabam por mandar água abaixo todas as ilusões que compõem a relação artista x admirador.

Por meio da postura do palhaço Careta, que trava um diálogo contestador com o seu interlocutor, a peça mostra a realidade vivida pelos artistas atualmente, questiona o papel da arte e o que a sociedade contemporânea espera da classe.

Muitos são os pontos de atenção nesta produção. E, a meu ver, o mais interessante deles é a forma como o palhaço tira sua "máscara" e revela o ser humano por trás do artista. Com todas as suas dores, questionamentos, decepções e anseios.

A utilização de elementos cênicos infantis como os truques circenses, as músicas e as brincadeiras, é a antítese que conduz o espectador ao reconhecimento do que vem por trás de um figurino e uma maquiagem bem feita.

E os papéis são claramente invertidos. No decorrer do espetáculo, vemos um homem comum ter atitudes tipicamente clownescas e o palhaço transformar-se em um homem comum adicionando pitadas de atitudes cruéis ao seu comportamento diante do fã.

O desenrolar do espetáculo se dá unicamente pelo diálogo, um ping-pong entre as duas personagens que sustenta um crescente suspense até o final da montagem.

Careta passa a maior parte do tempo gozando o seu fã Benvindo e tira boas gargalhadas da platéia que é levada pelos atores para momentos que se dividem entre descontração e silêncio.

"Palhaços" é uma montagem de cenário simples e conteúdo gigantesco. Adiciona-se a isso o colorido especial que os atores Dagoberto Feliz e Danilo Grangheia emprestam ao texto com todo o seu talento e o firme propósito de transformar o pensamento. E conseguem. Como sempre.

Abaixo a excelente reflexão do diretor Gabriel Carmona:

Para que serve o artista?

Não há resposta absoluta. Pode até ser perigoso dar utilidade a algo que, por natureza, é inútil, tal qual fazer amor, festejar ou pensar.

Mas mais perigoso, chato e emburrecedor, é o que acontece hoje. Como em muitos momentos da história ocidental, a arte torna-se novamente instrumento moralizante, como um domador de circo, a serviço da ideologia vigente que nos quer amortecidos, apaziguados.

A intenção é clara: levar o indivíduo para longe de si, da sua realidade e dos seus desejos mais profundos e legítimos. Sentimento torna-se sentimentalismo, opinião torna-se senso comum.

Não sabemos a resposta, mas sabemos que o diálogo entre artista e sociedade, como tantos outros, está infantilizado, mecanizado e muito aquém de suas reais possibilidades. A fama é um véu que separa duas pessoas iguais: criador e público. Estamos todos no mesmo barco!

Mas já não basta denunciar, apontar as deformações nas relações sociais, interpessoais e de qualquer âmbito. Agora, é preciso desmontá-las, descobrir o que leva alguns artistas a se colocarem como detentores da verdade salvadora ou prostitutos do dinheiro e da fama.

E descobrir também como parte do público transformou-se em mero consumidor de entretenimento, que não quer pensar, nem ser desafiado ou posto em cheque, mas somente, por alguns minutos, sair dessa vida monótona e maçante para entrar no reino da fantasia, onde o mocinho sempre vence e o mal sempre é o outro.

O espetáculo é uma tentativa desesperada de comunicação, de diálogo. É isso que queremos. (Gabriel Carmona)


Palhaços

Teatro Ópera Buffa - Praça Franklin Roosevelt, 82, Centro, São Paulo.
50 lugares. tel.: (11) 3237-1980. Em janeiro: Domingos às 20h13. Em Fevereiro: Sábados às 21h13 e Domingos às 20h13. Ingressos: R$ 20,00 (meia-entrada - R$ 10,00)75 min. Até 24 de fevereiro.

Ficha técnica
Elenco:
Dagoberto Feliz e Danilo Grangheia
Autor: Timochenco Wehbi
Direção: Gabriel Carmona
Produção: Vitor Souza
Iluminação: Erike Busoni
Téc. de Luz: Marcela Donatus
Cenário: Flavio Tolezani
Figurino: Daniel Infantini

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa noite, tudo bem?

Estava pesquisando onde poderia encontrar o texto de "Palhaços", do Timochenco Wehbi, tenho um grupo de teatro aqui em São Paulo e gostariamos de montar um espetáculo com esse texto, é muito importante para nós, se vocês puderem por favor entrem em contato comigo por e-mail.

Obrigada

Tatiana Gutierres
tgutierres1@hotmail.com