Meu nome é Arthur e tenho 27 anos.
Atualmente você estuda ou já é formado? Qual o curso?
Já sou formado. Fiz jornalismo.
O que você faz profissionalmente hoje?
Eu trabalho em uma rádio de notícias.
Como a música entrou no seu cotidiano?
Bem, lá para os meus 6, 7 anos de idade, comecei a me interessar por skate. Era uma época em que o esporte explodiu de popularidade, muito por causa de atletas americanos como Christian Hosoi, Tony Hawk, Lance Mountain, Steve Caballero. Aqui em São Paulo, essa onde pegou muita gente na época e havia um programa na Gazeta chamado Grito da Rua. Muita gente, principalmente mais nova, não faz idéia do impacto que esse programa tinha, principalmente em bairros mais periféricos da cidade como Freguesia do Ó e Pirituba, que é onde cresci e ainda moro. E eu comecei a andar de skate ainda criança. A partir daí, também tive os meus primeiros contatos com as bandas punks. Muita gente que andava de skate ouvia punk e hardcore, bandas como Circle Jerks, Dead Kennedys, Screamers, Agent Orange, GBH, Ratos de Porão, Garotos Podres, enfim. E os caras que faziam o Grito da Rua colocavam sempre essas bandas pra tocar nos vídeos o que ajudou a popularizar esse tipo de música. Desde então, comecei a me interessar cada vez mais por música. Foi como amor a primeira vista. Depois aos 12, 13, peguei emprestada uma guitarra de um primo meu e comecei a aprender a tocar sozinho. Meu irmão, que na mesma época começou a tocar bateria, tinha uma noção básica de como tocar alguns sons do Ramones, aquele lance de 3 acordes. Ele me explicou como fazia. A partir daí, fui treinando sozinho, tocando e tirando de ouvido. Daí, meu irmão e eu montamos uma banda e, desde então, não parei mais.....A música entrou no meu cotidiano dessa forma...
Qual a importância da música na sua vida?
Pó, música é o combustível que eu preciso pra viver. Penso em música toda hora, praticamente. Ouço indo para o trabalho, voltando do trabalho, em casa de bobeira. Praticamente o tempo todo. Música é algo que precede a linguagem, é a expressão de um estado de espírito. É algo que me motiva, me dá ânimo, enfim. Faz parte do meu cotidiano e é parte de quem eu sou.
Quais são as suas influências musicais?
Bem, basicamente punkrock e hardcore: bandas que eu já citei como Circle Jerks, Agente Orange, Bad Brains, Minor Threat, Fugazi, Ramones, Clash, Sex Pistols, Cock Sparrer, Ratos de Porão, Cólera, enfim, um milhão de bandas de todo mundo. Mas também ouço muito reggae, Bob Marley, Peter Tosh, enfim, os clássicos...
Que instrumento ou instrumentos você toca e desde quando?
Como já disse toco guitarra desde 91, 92, não lembro exatamente quando comecei, mas foi por aí...
Quais são suas principais atividades no dia-a-dia, quais bandas você pertence e já pertenceu e em quais você participou da fundação?
Bem, minha principal atividade no dia-a-dia é meu trabalho. Sou jornalista, trabalho em uma rádio de notícias. Fora isso, passo o resto do tempo ouvindo música, compondo, ensaiando. Sobre as bandas, hoje eu toco em duas: uma delas é o Agrotóxico. O grupo existe desde 1993, mas eu só me juntei a banda em 2005. A outra é o Naifa que começou em 2005. O estilo das duas é hardcore, mas como sonoridades bem diferentes. Do Naifa, eu participei da fundação. Outra banda que toquei foi o Flicts. Essa eu também fundei, junto com o meu irmão. O Flicts durou 10 anos, lançou uma série de CDs, fez uma tour na Europa em 2004, e foi minha primeira banda mesmo.
Você compõe e escreve as letras das suas bandas?
Não todas as músicas, mas eu componho e escrevo, tanto no Agrotóxico, quanto no Naifa.
O que você, junto com as “suas” bandas esperam transmitir através das músicas?
É difícil de responder essa questão. Acho que a graça da música está no ouvido de quem ouve e não necessariamente de quem a escreve ou de quem a toca. Se a música provocar qualquer tipo de sentimento ou de reação em uma pessoa, acho que ela já cumpriu sua função. Pode ser alegria, raiva, ódio, tristeza, qualquer coisa. Se a música provocar um efeito nas pessoas, legal. Fico feliz com isso, mesmo que a interpretação do ouvinte não seja exatamente a que eu pensei quando fiz a música. Mas ao mesmo tempo, não crio muitas expectativas sobre como vão encarar o que a gente faz, se as pessoas vão gostar ou não, se vão entender ou não. Acho que uma banda deve estar feliz com a música que faz, antes do público ou de qualquer outra coisa.
Como está o cenário "alternativo independente" hoje, e como era há alguns anos?
Bem, o cenário alternativo independente tem rolado. Pelo menos, em São Paulo, que é onde acompanho mais. A gente tem o Hangar que está há nove anos aí dando oportunidade para bandas de vários estilos: punk, hardcore, ska, emo, metal, enfim. Você tem os picos na Augusta, como o Outs, que sempre abrem as portas para a galera do underground. E tem uma galera que não é inerte e bota a mão na massa. O coletivo Verdurada, que está há mais de dez anos, organizando show, promovendo debates, palestras no Jabaquara. Você tem o Lady Fest, que é não é só um festival de bandas, mas uma semana inteira de debates, workshops, oficinas, exibições de vídeos e bandas, tudo produção independente e feminina. E todo o fim de semana, praticamente, você tem um show ou algo do tipo rolando aqui e ali.
Apesar disso, eu, particularmente, tenho a impressão de que agora, o cenário todo deu uma caída. No fim dos anos 90 até 2004, mais ou menos, o cenário prometia mais, havia um clima de mais ânimo e efervescência. Muitas bandas aparecendo, a gente contou com os dois festivais “A um Passo do Fim do Mundo” e o “Fim do Mundo” que meio que foi o ápice de tudo o que estava rolando até então. Isso sem contar outros festivais, bandas indo fazer tour na Europa, a cena de outras partes do país, Brasília, Espírito Santo, Recife, Rio Grande do Sul, Curitiba, principalmente, com uma cena muita ativa, com bandas de todos os estilos e bandas de qualidade, enfim.
Neste momento, acho que estamos em uma fase de transição. Há alguns anos, a gente já tinha a Internet, mas a galera ainda comprava mais CDs, discos e não copiava tanto. Agora, todo mundo baixa tudo da Internet e as bandas independentes também sentem o reflexo disso. A Galeria do Rock está cada vez mais vazia. Muitas lojas de CDs estão fechando e dando lugar a estúdios de tatuagens e piercing. Como ficou ainda mais fácil gravar um CD, a gente tem muito mais bandas por aí, mas ao mesmo tempo, há um crescimento quantitativo e não qualitativo.
Penso que temos que esperar pra ver no que vai dar isso tudo e o mais importante: continuar tocando e seguindo a idéia do Faça Você Mesmo...
A música independente é para você uma opção ou a única forma de continuar “tocando”?
Sempre foi uma opção pra mim. A maioria das bandas hoje encara o cenário independente como um degrau para entrar nas grandes gravadoras. Como se houvesse um manual do que deve ser feito passo a passo para alcançar o “sucesso”. Eu não concordo com essa postura.
Prefiro tentar buscar um circuito alternativo no verdadeiro sentido da palavra, onde nós produzimos a nossa música, nós organizamos os nossos shows, nós mesmos gravamos e lançamos os nossos discos, nosso livros, vídeos, enfim, nós temos a liberdade para fazer o que bem entendermos sem interferências comerciais ou interesses paralelos.
Minha idéia é mostrar que, mesmo num país pobre como o nosso, é perfeitamente viável adotar uma postura de contestação nesse sentido, com uma cena ou uma banda que não segue as regras de mercado, mas adota uma postura mais justa, mais sincera e de cooperação. No que a maioria vê como limite, nós vemos uma virtude.
Qual sua visão do independente X comercial?
Bem, pra resumir e ser objetivo: o comercial visa o lucro. A grande gravadora não quer saber se sua a música é interessante do ponto de vista artístico, se é inovadora, enfim. A música tem que ser agradável e interessante do ponto de vista comercial. Seja a banda que for, o músico que for, você tem que se moldar a certas regras para entrar no esquema. É claro: você ganha do ponto de vista da distribuição, divulgação. Sua música chega para muito mais gente, enfim. Mas por outro lado, por mais que as bandas que entram no esquemão jurem que não é assim, você sempre perde a liberdade que tem. O produtor vai tornar o seu som aceitável para as rádios, vai tirar a guitarra pesada dali, colocar um violaozinho aqui, você vai ter que entrar no esquema do Jabá, que hoje é chamada de “verba de divulgação”, ou “verba promocional” ou algo do tipo para tocar em rádio, vai ter que ir a programas de TV, de MTV a Faustão.
Sei lá. Se você está disposto a passar por isso, e acha que vai sair ganhando, por mim tudo bem. É uma chance do cara tenta viver de música, enfim. Mas não entendo que isso é o melhor pra mim, pessoalmente.
Prefiro o esquema independente, porque não encaro música como um negócio ou uma banda como uma empresa. A relação é mais sincera, verdadeira. Não toco pra ficar famoso, nem pra ganhar dinheiro. Toco para me expressar, extravasar, passar uma idéia, uma mensagem, ou para não passar mensagem nenhuma se isso for interessante. Quando componho, não estou preocupado com o que a gravadora ou o produtor contratado vai achar, se vão aceitar, se é vendável do ponto de vista comercial. Quando tenho o disco em mãos, não fico pensando na chamada “música de trabalho”. Não estou nem aí para o rádio e para a televisão. Se pudermos chegar aos meios de comunicação de massa, legal. Mas não aceito ter que pagar ou me sujeitar a puxar o saco de ninguém para conseguir isso, ou aceitar fazer play-back como muita gente faz até hoje.
Basicamente, portanto, a diferença é de postura. O comercial trata as pessoas como consumidores, pura e simplesmente, e a banda e a música nada mais é do que um produto colocado à venda. Já no independente, na minha concepção, música é uma forma de linguagem e de expressão, sincera e verdadeira, e que pode servir para que as pessoas reflitam e levem idéias positivas e construtivas para as ruas.
Quais as diferenças entre uma banda independente e uma banda comercial?
Bem, acho que já respondi essa.
Qual é a maior dificuldade das bandas independentes hoje?
Distribuição. Sempre foi e ainda será por muito tempo. Hoje, é fácil fazer um disco, mas distribuí-lo ainda é uma batalha. O circuito de distribuição independente é eficiente do meu ponto de vista, mas como já disse tem suas limitações. A Internet, porém, tem ajudado nesse sentido, com divulgação e até com a distribuição. Mas ainda é ruim, já que boa parte da população ainda não tem acesso a rede mundial de computadores. Fora isso, temos outros problemas que enchem o saco, mas não chega a nos desanimar como, por exemplo, promotores pilantras, que organizam os shows e não cumprem com o combinado, casas que não dão à mínima estrutura, equipamentos ruins, brigas, tretas, enfim.....
A internet ajuda ou atrapalha? Como você enxerga a relação entre as bandas
independentes e a internet?
Então, como disse, ajuda na divulgação das músicas, dos shows, enfim. Mas ao mesmo tempo, tem o outro lado da moeda: o download de músicas e cds também afeta o cenário independente. Muita gente deixa de comprar o CD e baixa tudo da rede. E a fase é de transição. A forma como se apresenta a música está mudando, mas ninguém sabe direito o que vai acontecer. Já tem grande gravadora que está virando promotora de shows e representante de artistas, porque a venda de CDs já não é interessante do ponto de vista comercial. Vão continuar explorando, mas de outra forma.
Eu sinceramente não sei. Talvez, o futuro seja fazer vinil como na Europa. Por lá, a galera do underground prefere vinil porque a relação com o disco não é comercial e sim afetiva, de consideração com um trabalho. Por aqui, tem um problema, porque só existe uma fábrica de vinil e ouvi dizer que estava em crise e prestes a falir. Uma certeza, porém, eu tenho: seja como for, o independente sempre vai continuar por aí, de um jeito ou de outro.
Para você, qual o futuro da música? Quem sobreviverá nesse mundo novo?
Acho que já respondi essa. HEHEHE
Esse é seu espaço... fique a vontade para botar a boca no mundo... Se quiser, deixe um recado pra galera que ouve vocês, e eu sei que é muita gente!
Porra, faça você mesmo!
Faça por você porque se não fizer, ninguém irá!
E não desista. Você não está sozinho!